Puxei a lágrima com um anzol
fisguei a dor
abracei a morte e a ressurreição
me salvou
enxerguei as 20 crianças mortas ontem
mais outras tantas mortas por inanição
o boi perfurado na arena gritava
eu vi corpos decapitados na guerra
lembrei-me de minha mãe e de meu pai
que me ensinaram a sentir,
ainda que fisgada abrupta de flecha
Sem outra saída, senão lançar-me
"sem medo, filho, vá, sozinho"
e cá estou eu, a pescar, raivoso
num vasto cômodo de emoções
Viscoso, salgado, resoluto
veneno me queimava os olhos
sem pressa, faleci, até que
pela fruição de sentimentos
revivi, outro, e nesta pescaria
o peixe fisgado fora sempre eu.