domingo, 16 de dezembro de 2012

Pescaria

Puxei a lágrima com um anzol
fisguei a dor
abracei a morte e a ressurreição
me salvou

enxerguei as 20 crianças mortas ontem
mais outras tantas mortas por inanição
o boi perfurado na arena gritava
eu vi corpos decapitados na guerra

lembrei-me de minha mãe e de meu pai
que me ensinaram a sentir,
ainda que fisgada abrupta de flecha
Sem outra saída, senão lançar-me

"sem medo, filho, vá, sozinho"
e cá estou eu, a pescar, raivoso
num vasto cômodo de emoções

Viscoso, salgado, resoluto
veneno me queimava os olhos
sem pressa, faleci, até que

pela fruição de sentimentos
revivi, outro, e nesta pescaria
o peixe fisgado fora sempre eu.