Eu faço poema à antiga
poema com letras
amantes de palavras
vivas na gramática
poema cravado, ponto a ponto
assim, meio velho, na folha
poema com lastro, ávido
por ser multifonético
com acentos e hífens
exclamações plácidas
daquelas que espantam
simplesmente, em vão
Faço poema com pão
para a hora do chá
ou poema sobremesa
canela no arroz doce
brilhante feito larva
antes de ser pedra
resoluto, redondo
como na vida: ardor
saudade, alegria e paixão
sem mais nem menos
em letras engastadas
entre vazios, no vácuo
Sob sons implícitos
e imagens cravadas,
poema de lágrimas
de mim arrancadas
plantado em vala rasa
fertilizante de sílabas
pai da palavra dada
que enfeita a língua
poema que brota
espreita olhares, astrais
sinais e outros tais
pontos e vírgulas.