sábado, 20 de novembro de 2010

À antiga

Eu faço poema à antiga
poema com letras
amantes de palavras
vivas na gramática


poema cravado, ponto a ponto
assim, meio velho, na folha
poema com lastro, ávido
por ser multifonético


com acentos e hífens
exclamações
plácidas
daquelas que espantam
simplesmente, em vão


Faço poema com pão
para a hora do chá
ou poema sobremesa
canela no arroz doce


brilhante feito larva
antes de ser pedra
resoluto, redondo
como na vida: ardor


saudade, alegria e paixão
sem mais nem menos
em letras engastadas
entre vazios, no vácuo


Sob sons implícitos
e imagens cravadas,
poema de lágrimas
de mim arrancadas


plantado em vala rasa
fertilizante de sílabas
pai da palavra dada
que enfeita a língua


poema que brota
espreita olhares, astrais
sinais e outros tais
pontos e vírgulas.