sexta-feira, 12 de abril de 2013

Morrer, viver, sonhar, sentir

Em 2010, em Salvador, eu dormia enquanto um apartamento no andar acima do meu se incendiava e os demais moradores do prédio corriam em polvorosa a meio da noite, com medo do fogo e da fumaça, que poderiam se alastrar e colocar suas vidas em risco... Aliás, nossas vidas. Mas eu dormia e, dormindo, corri risco de morrer, foi o que me disse o síndico no dia seguinte.

Na madrugada da última sexta-feira, uma terrível tempestade de vento assolou Lisboa. Eu vivo num sótão, aqui chamado de águas furtadas, de modo que meu telhado é o mais vulnerável a ventanias e tempestades. É aconselhável que se abandone lugares assim, quando os ventos estão fortes, pois não se sabe o que pode ocorrer ao telhado. Eu, no entanto, dormia e nada vi ou ouvi.

Não penso ter anteontem, como em Salvador, corrido algum risco, porém confirmei que o sono é meu refúgio mais inviolável e, talvez por isso mesmo, por ser um refúgio tão querido e confortável, ele seja também a casa de minha morte.