terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Cegueira

Havia o casal de cegos, guiando-se um ao outro em direção à estação Marquês de Pombal. Havia a mulher cega e insegura a transitar entre as lojas desta mesma estação. Havia o homem cego guiado por uma mulher que coreografou uma manobra entre os bancos de um vagão de metrô, antes de abrir passagem até o lugar onde ele se sentou. Havia o belo jovem cego com mochila às costas, que recebeu olhares de piedade dos que passavam por ele na estação Entre Campos e o outro jovem, mais alto e forte que, na estação Roma, abria caminho entre os que fingiam não o ver. Havia o mendigo cego, na escadaria da estação Rato a falar ao celular, com um enorme livro em braile pousado no colo e havia ainda a mulher cega a andar em direção à estação Saldanha, submersa nas vozes dos que passavam apressadamente ao seu lado sem notar a sua presença sorumbática.