terça-feira, 9 de outubro de 2012

Lisboeta

"As lojas têm que aguentar não vender e o povo tem que evitar consumir, o que é difícil a um português, como o lisboeta. Preparamo-nos para um inverno econômico." Um inferno, interpelei-o. "O quê?!". Eu, um 'inferno' de economia. "Ah, sim, claro. Um inferno...

Vocês, brasileiros, conhecem bem essas coisas de crises, não é?" Sim, muito.

Os que têm menos de trinta já não se lembram delas. Cresceram com boas notícias e com menos aperto... "Pois! Eu sempre digo que os brasileiros sabem superar as crises. Vocês são alegres, otimistas, mas nem todos." É, eu sei, nem todos nós somos bons, disse-lhe isso e ri, somente eu a entender a piada.

"Se o brasileiro sabe de crises, o lisboeta sabe de imigração".
E qual é o melhor imigrante?, ousei lhe perguntar. Soltou a resposta, confiante, "Actualmente, bom imigrante é o que ajuda a encher barrigas portuguesas..." Voltou seu olhar a mim, esboçou um riso tímido ao ver que eu percebera a sua piada, apontou-me o guarda-roupas e, enquanto eu verificava o móvel, "Já não nos importamos mais com isso, dia desses alugamos a um muçulmano.

Não deu certo, por conta da idade, ele tinha, 'pá!', uns trinta e cinco anos. Aqui, costumam viver mais miúdos." Voltei meu olhar ao dele, eu não pretendia morar com meninos e meninas da licenciatura. Ele, experiente em ler olhares, "Na verdade, não quaisquer miúdos, são todos estudantes do Instituto Superior Técnico, o que já demonstra suas inteligências.

São bons rapazes e tem a senhora que vem cá limpar as áreas comuns, três vezes por semana."
Mantive-me distante, ele notou meu desinteresse pelo quarto que me mostrava. Dali em diante, meu trabalho seria apenas o de abrir caminho até a porta de saída.

"Para mim, já não importa ser um preto, ou um brasileiro; só não aceitamos casais de estrangeiros. Agora, vivem cá dois russos, mas que falam muito bem o português."