A mulher, sentada em frente a uma loja, coberta
excessivamente com panos pretos carcomidos pela sujeira, tal qual a pele de seu
rosto queimado pelo sol, conferia ansiosa os números do euromilhões.
Não mais que de repente, seu semblante cerrou-se: olhou para
o lado, amassou os papéis com os mal fadados números e, com uma raiva que me pareceu recorrente, jogou-os num enorme saco abarrotado por outros números
como aqueles, mais os trapos, as sucatas e os plásticos tornados tesouros de uma vida.
Recomposta da frustração, voltava a ser uma fidalga
riquíssima. Os transeuntes deveriam nota-la e recompensa-la, pelo privilégio de
passarem próximo a uma dama tão distinta.