quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Noite afora

Agora, em minhas mãos estafadas
mulheres dão à luz crianças chorosas
Outras, mortas, lançam seus espíritos
sobre casas rotas, às avessas, noite afora

Marteladas explodem em paredes tortas
rãs chacoalham o ar com cantorias
neste instante, há paz no lar da cotovia.
Corujas piam em colinas assombrosas

Vacas ruminam mugidos severíssimos
Motores falam por estalos automáticos
mensagens provocam estampidos
em celulares de noivas sorumbáticas

Ladrões exercitam-se em celas de cimento
freiras insones digerem seus tremores
Assassinos livres aprontam as ferramentas
enquanto, lúcido, estanco sangramentos

Rimas jorram-se, confiantes no poeta
que se acerca de verdades interditas
a colar sua voz na goela d'um periquito

Criam-se luzes no céu das coincidências
arregala-se o olho triste do palhaço
justamente quando este boceja de cansaço.