Antes de esculpir mil haikais
debulhe cem bagos de feijão de corda
quando a manhã pronta transborda
das costas do céu azul, antes do sol
depois acople dois novos versos
à pata de uma lhama branca
recupere-os, amassados
com manchas de areia.
Jamais encontrará de primeira
os versos limpinhos, as palavras
combinadas, como gosta de ler
nas obras da grande literatura
Tudo começa e termina na procura
a perfeição é imediata apenas ao leitor
ao poeta falta o elo último, a fechar
um circuito oracular de clara percepção
Apenas quando se vê nascer finalmente
uma completa imagem ovular a flutuar
nos rios da sensibilidade, lentamente,
eles emergem, em máxima sabedoria.
Apronte-se, corra a se banhar, coma,
arrume as malas e se hospede no jardim
duas ou três palavras o irão acordar
naquela hora derradeira da madrugada
antes da passarada, ouvirá um galo a anunciar:
numa das penas deste galo, os haikais estarão lá .