terça-feira, 1 de abril de 2014

Engano

No ônibus, uma senhora espanhola, com seus oitenta anos de idade, se apressou para ajudar uma mãe, provavelmente vinda da Guine-Bissau, por acreditar que o filho desta poderia se machucar com o cordão da touquinha que o protegia do frio. 
Ao perceber que o pequeno garoto havia conseguido sozinho e habilmente se desvencilhar da roupa, a senhora voltou ao seu acento à minha frente e falou, com a expressão de quem confirma uma descoberta libertadora, "Somos todos iguais!". Aproximando-se de mim, falando mais baixo, completou, "na minha infância, diziam-me que os africanos eram selvagens, mas não! Faltava-lhes..." Ao girar as mãos em direção à janela, referia-se à Lisboa vespertina que passava por nós.
Não mais uma mulher racista, acometia-lhe agora a enganosa impressão de que aquela criança terá na vida oportunidades equivalentes às que terão seus netos nascidos na península ibérica.